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A Decolonialidade em Contos para ler no Alpendre, de Nilo Nobre

Em nossa mais recente transmissão ao vivo realizada na plataforma Substack, eu, Filipo Brazilliano, agitador literário e redator do Portal Cataprisma, me reuni com Auryo Jotha, apresentador do podcast Café com Ossos, para receber o escritor, historiador e quadrinista Nilo Nobre. O encontro, que já está disponível em vídeo no YouTube e em áudio nas principais plataformas de streaming, celebrou o lançamento do livro Contos para ler no Alpendre.

Nilo acaba de lançar sua nova obra, uma antologia composta por 25 contos que se debruçam sobre o Brasil profundo, com personagens e paisagens atravessados pela ficção especulativa e por uma abordagem que reposiciona o país no centro da narrativa. O livro é fruto direto da vivência do autor no coletivo Escambaclube, conhecido por seus desafios mensais de escrita e pela intensa troca entre escritores iniciantes e experientes. A publicação foi contemplada pelo edital da Lei Paulo Gustavo no Ceará.

Durante a conversa, exploramos o processo de criação da obra, desde as primeiras ideias surgidas nos encontros do Escambaclube até os bastidores da publicação por edital. Nilo falou abertamente sobre os desafios de transformar uma coletânea autoral em um projeto aprovado por financiamento público, passando pela curadoria dos textos, a leitura crítica, a preparação editorial e a distribuição do livro. Ele compartilhou os percalços da inscrição, a ansiedade com os prazos e a alegria de ver o projeto tomando forma.

Também falamos sobre sua trajetória com HQs baseadas em documentos históricos e a guinada para a prosa ficcional após sua entrada no Escambaclube. Nilo revelou que sua intenção inicial era apenas melhorar os roteiros de quadrinhos, mas, ao se envolver nos desafios do coletivo, passou a produzir contos semanalmente, chegando a escrever quase uma centena.

O papo também se aprofundou nas ideias que sustentam a literatura decolonial, uma vertente que busca romper com o eurocentrismo e restaurar as vozes apagadas por estruturas coloniais. Para Nilo, essa literatura nasce do desejo de olhar para o mundo com nossos próprios olhos, partindo da oralidade, das histórias locais e das memórias silenciadas.

“Precisamos escrever sobre nós mesmos, com protagonistas que escapem do padrão do homem branco e rico. Escrever sobre o homem negro, a mulher indígena, o sertanejo, o morador da periferia. Esses sujeitos trazem vivências com as quais nos identificamos e, ao mesmo tempo, desestabilizam a estrutura colonial que ainda nos cerca” - Nilo Nobre

Nilo defendeu que nem toda história precisa ser pedagógica para ser transformadora. Para ele, a simples presença de referências culturais locais já carrega potência narrativa.

“Nos Estados Unidos, a Guerra Civil é contada mil vezes por diferentes perspectivas. No Japão, histórias sobre a batalha de Sekigahara ou sobre a raposa de nove caudas povoam mangás e animes. E por que nós não fazemos o mesmo com a nossa história? Temos uma cultura riquíssima. Que tal uma história de terror durante a corrida do ouro em Minas Gerais no inicio de 1700? Uma fantasia sobre sertanejos na época do ciclo da borracha no Amazonas? Uma distopia sobre padrões de beleza imposto pelo governo? Tudo isso está no meu novo livro.”

Todas essas histórias citadas ganham corpo em Contos para ler no Alpendre, que propõe imaginar o Brasil a partir de dentro, com histórias que transitam entre vários gêneros como fantasia, ficção científica, horror, mas sempre com um pézinho na brasilidade. Na live, o autor contou ainda sobre sua participação na Bienal do Ceará e o impacto da roda de conversa na Biblioteca Sorriso da Criança, onde entregou exemplares de seu livro.

“Teve uma senhora da Educação de Jovens e Adulto (EJA) que conversou comigo sobre características do passado que ela sentia falta. Isso faz ponte direta com a discussão sobre decolonialidade, pois mostra uma identificação maior das pessoas por conta de ser um cenário próximo ao seu.

Contos para Ler no Alpendre pode ser adquirido diretamente com o autor, basta chamá-lo nos directs do Instagram ou no Tiktok.

Essa live faz parte do podcast Jornada Literária, um braço audiovisual do Portal Cataprisma, e está disponível, integralmente, no canal do Youtube e apenas o áudio no Spotify. Dê uma moral para o nosso trabalho e engaje com o conteúdo, seja comentando, enviando amores ou compartilhando nas redes sociais.

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