Me reuni com Igor A.N. Silva e Stefanno Fornari para um bate-papo sobre ficção científica, abordando temas como histórias futuristas, distopias e cibernarrativas. A conversa trouxe reflexões profundas sobre o gênero e suas influências.
Igor A. N. Silva, autor de 8:32, Vampiras de Nova-Rio e Assombrado.mind, é um escritor independente que transita entre fantasia histórica e ficção científica. Já participou de diversas antologias e faz parte do coletivo Motim Books. Já Oscar Stefanno Fornari é um artista multimídia e autor da saga Sangue, Metal e Ganância. Além de escritor, atua como Game Dev, filmmaker, músico no estúdio Scifimation e compartilha dicas de escrita criativa em sua página no TikTok.
Durante a transmissão, discutimos como a ficção científica entrou na vida dos autores e moldou suas produções literárias. Igor destacou a influência de Blade Runner e da animação brasileira Uma História de Amor e Fúria. Oscar Stefanno parafraseou a citação de Rod Serling, criador da série Twilight Zone dizendo: “a ficção científica é o improvável tornado possível” e refletiu sobre como o gênero explora as ramificações tecnológicas e científicas, sejam elas positivas ou negativas para a humanidade.
Outro ponto abordado foi a forma como os autores combinam elementos clássicos da ficção científica com suas visões autorais. Igor A. N. Silva mencionou a abordagem do subgênero Kaiju e de Akira, uma animação ciberpunk, que discutem o trauma da bomba nuclear através da perspectiva da arte japonesa. Ele comenta que busca discutir nossas próprias problemáticas, trazendo uma perspectiva brasileira para a ficção especulativa ao explorar temas como desigualdades sociais, violência urbana e o impacto de políticas neoliberais. “O Rio de Janeiro hoje vive em um narcoestado paralelo dentro do próprio estado brasileiro. Então temos nossas próprias questões que podem e devem ser abordadas dentro da nossa ficção.” Afirma Igor.
Já Stefanno falou sobre sua abordagem no ciberpunk, explorando a desconexão humana em um mundo dominado pela tecnologia e pelo controle corporativo. Para ele, que adora escrever sobre relações humanas, psicologia, morais e éticas complexas, compreende o gênero sempre foi uma previsão do nosso futuro, refletindo a realidade social e política atual.
“A Ficção científica busca explorar as ramificações que o avanço da ciência e tecnologia podem trazer para a humanidade. Ainda que possa atingir níveis futuristas atualmente irrealistas, tudo que existe nela pode se tornar realidade um dia. É um pé no futuro sem abandonar o presente, um tipo de fantasia alcançável, e por isso, um gênero que pode ser humano mesmo em meio às máquinas.” — Oscar Stefanno Fornari
Oscar Stafanno Fornari discorreu sobre como teoricamente o nosso mundo já está caminhando para uma organização ciberpunk no contexto social. Ele conta como a obra Cyberpunk, acima de um mundo puramente tecnológico, aponta para a dominação de corporações. É um mundo onde empresas têm controle de todos os dados pessoais, públicos, uma influência política maior do que seria normal, criando assim uma onda de crimes e maior repressão policial. Isso não é tão distante de nossa realidade atual! O próprio Mike Pondsmith, cujo o universo inspirou o Cyberpunk 2077, citou que São Paulo e o Rio de Janeiro são as cidades mais cyberpunks que ele já esteve.
Falamos também sobre as narrativas criadas por cada um. Igor A. N. Silva desvendou o processo de construção de Nova-Rio, um universo que bebe da estética caótica de Akira (1988) e da reconstrução de uma metrópole pós-guerra.
Sua obra tece críticas à violência urbana, ao abandono estatal e a um sistema liberal que engole até mesmo instituições religiosas — fazendo ascender disputas entre igrejas neopentecostais refletindo a natureza mais vil do capitalismo predatório. Ao trabalhar com implantes cibernéticos e manipulações tecnológicas, Igor desloca questões urgentes da realidade contemporânea para um futuro distópico.
Stefanno, por sua vez, detalhou mundo de “Sangue, Metal e Ganância”, ambientado na Republica de Mérida, uma sociedade em transição acelerada para o ciberpunk. Em meio a uma arquitetura minimalista com estética fria e mecânica, o autor explora como um vírus misterioso desencadeia mutações biológicas em humanos, os tornando alvos de um governo que os recruta à força para servir em uma agência de controle estatal. Uma narrativa que mistura revolta e decadência, Oscar Stefanno Fornari expõe a exploração do trabalho, a deterioração da saúde mental dos personagens sob pressão e a desconexão social.
“É interessante, tem pessoas que passam a vida consumindo ficção distópica e não conseguem trazer para a sua realidade, entender que a obra também é um debate atual, que ela está discutindo sobre a nossa realidade.” — Igor A N Silva
Essa live faz parte do podcast Jornada Literária, um braço audiovisual do Portal Cataprisma, e está disponível, integralmente, no canal do Youtube e apenas o áudio no Spotify. Dê uma moral para o nosso trabalho e engaje com o conteúdo, seja comentando, enviando amores ou compartilhando nas redes sociais.
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