Na noite do dia 03 de Fevereiro, me reuni com Auryo Jotha e Bianca Pontes para realizarmos nossa primeira transmissão ao vivo; uma live em que rolou quase 1h30 de troca sobre produções literárias, desafios de publicar por conta e como as redes influenciam a caminhada do escritor independente.
Auryo Jotha, autor de Acalanto (2023) e vencedor do Prêmio Wattys em 2018, compartilhou sua trajetória desde os primeiros escritos na escola até criação do coletivo Motim Books, pelo qual publica suas obras na Amazon. Bianca Pontes, por sua vez, é escritora, produtora cultural e mediadora de clubes de escrita. Autora do romance Értom (2024), ela começou sua jornada na literatura ainda criança, escrevendo fanfics e colaborando em blogs. Depois de anos dedicados à carreira jurídica, decidiu retornar à escrita e fundou o Clube de Escritores Belo Horizonte.
Durante a conversa, os autores refletiram sobre como a literatura marcou suas vidas desde cedo; Bianca lembrou de um exercício da quarta série, quando foi desafiada a escrever um poema e percebeu, naquele momento, que queria viver de escrita e desde então não parou mais de escrever. Auryo contou sobre uma tarefa escolar na qual deveria escrever um parágrafo inspirado nos recortes de um jornal, mas acabou produzindo cinco páginas. Foi assim que a literatura surgiu em suas vidas, e depois que ela os surpreenderam nunca mais foram os mesmos, passaram a desejar se tornarem contadores de histórias cada dia mais.
O papel das plataformas de autopublicação foi outro tópico da conversa. Auryo destacou sua experiência no Wattpad, onde a possibilidade de interação direta com os leitores e a premiação no Wattys levantaram sua confiança como escritor. Bianca, por sua vez, relembrou seu envolvimento com a comunidade do Anime Spirit, onde escritores organizavam concursos internos e criavam um ambiente de troca. Ambos concordam que essas plataformas foram essenciais para a formação de suas bases de leitores e que, hoje, as redes sociais tornaram essa construção mais desafiadora devido ao algoritmo imprevisível e à transição do consumo de textos para conteúdos audiovisuais.
“Acalma o coração. Ninguém estoura da noite para o dia, é preciso construir público, e isso leva tempo.” — Filipo Brazilliano
Os desafios da visibilidade na internet foram amplamente discutidos. Auryo mencionou as dificuldades enfrentadas fora das plataformas de comunidade, onde o algoritmo está cada vez mais imprevisível e a métrica não ajuda a identificar o público-alvo, nem reflete necessariamente o impacto real das histórias. E a busca por alternativas às redes sociais tradicionais também foi abordada. O uso de grupos no WhatsApp e Telegram, assim como newsletters no Substack, entre outras plataformas, foram citados como caminhos viáveis para estabelecer um contato mais orgânico com os potenciais leitores.
Outro ponto discutido foi a essência da literatura independente: a liberdade criativa e a responsabilidade do autor em todas as etapas da publicação. Auryo e Bianca destacaram que, ao mesmo tempo em que podem escrever sem restrições, precisam gerenciar aspectos editoriais e de divulgação. Como exemplo de narrativas independentes, foram citadas revistas como Mafagafo, da Jana Bianchi e a Escambanáutica, do coletivo Escambau, que abrem espaço para contos experimentais.
“Sou um pouco radical nisso: eu acho que é obrigatório para o escritor que ele leia gêneros diferentes, porque assim se adquire mais repertório. Não existe isso de escrever sem ser um leitor antes.” — Bianca Pontes
Por fim, falamos sobre as tendências do mercado editorial para 2025. Apesar das previsões das grandes editoras, questionamos até que ponto essas tendências refletem o interesse genuíno do público ou apenas reforçam padrões já estabelecidos. Bianca comentou sobre “Értom”, seu romance insólito sobre uma jovem que prevê mortes, enquanto Auryo destacou “Acalanto”, um projeto multimídia que nasceu como um podcast de ficção antes de ser publicado na Amazon.
A conversa também passou pelos coletivos literários. Bianca explicou como o incômodo com a falta de envolvimento entre escritores de Belo Horizonte levou à criação do Clube de Escritores BH. Auryo, por sua vez, falou sobre o Motim Books, grupo formado com Igor A. N. Silva e Lucas C. Lima, amigos que se conheceram no Wattpad e transformaram a amizade em uma parceria entre escrititores.
“O impacto que trabalhar em coletivo tem na minha vida é sem comparação. Não sei nem onde eu estaria se não fosse o coletivo”, declarou Auryo Jotha.
Coletivos mencionados na live: Coletivo Escreviventes, Coletivo Nídaba, Selo Auroras, Elas Publicam
Essa foi a primeira transmissão ao vivo organizada por mim, através do Portal Cataprisma, na plataforma Substack, e espero que seja a primeira de muitas outras. Agradeço o apoio tanto de quem esteve presente na live quanto quem estará assistindo/ouvindo posteriormente.
Sigam o Auryo Jotha e a Bianca Pontes nas redes sociais e acompanhem seus trabalhos no cenário da literatura independente.
Share this post